Barreira pode sumir em
20 anos
Erosão pode recuar até 40 metros da falésia do Cabo
Branco; intervenção precisa ser feita para conter desgastes
Em 20 anos,
o Farol do Cabo Branco pode desaparecer, se nada for feito para conter a erosão
na Barreira e na Ponta do Seixas, em João Pessoa. Essa é a previsão de
especialistas, que afirmam que é preciso haver uma intervenção urgente, para que
o seu título de “extremo mais oriental das Américas” não esteja ameaçado. De
acordo com o geógrafo da Secretaria de Meio Ambiente de João Pessoa (Semam-JP),
Williams Guimarães, nesse mesmo período, o fenômeno pode recuar aproximadamente
40 metros nas falésias.
Estudo mostra que a Barreira do
Cabo Branco, em JP, recua quase 2 metros por ano. Foto: Uênia Barros/Correio da Paraíba |
O recuo da Barreira oscila entre 0,46 metros e 1,92 metros por ano, e vem aumentando sensivelmente nas últimas décadas. Mas em alguns pontos, a erosão é maior, como na praia do Seixas. “No ano de 2011, o recuo foi de aproximadamente três metros no trecho que compreende o estacionamento do Seixas”, disse o geógrafo.
Erosão na Barreira do Cabo Branco.
Previsão para 2013 é alarmante. InfografiCORREIO. Sérgio Bilous. |
A projeção é resultado de uma pesquisa concluída em 2009 que durou três anos, envolvendo oito equipes de pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e de Pernambuco (UFPE), coordenado pela Semam. O geógrafo Williams Guimarães participou da comitiva da pesquisa e, desde então, monitora as áreas consideradas mais críticas de erosão: praia do Seixas, Barreira do Cabo Branco e Praça de Iemanjá.
Segundo ele,
dos quatro Estados do Nordeste que têm caráter erosivo no litoral - Ceará,
Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte -, a situação da Paraíba é considerada
a mais grave. “Não temos nenhuma intervenção até agora. Todas as outras capitais
já têm ou iniciaram alguma obra de contenção”, disse. A Paraíba possui 147 km de
litoral, sendo 42% erosivo.
“Drenagem da área foi
prejudicada”
A
localização da Estação Ciência também é posta em xeque pelo especialista. “Não é
a obra em si que traz danos, mas a vegetação que foi retirada do local para
construí-la, o que ocasiona infiltração de água das chuvas, um dos maiores
vilões da erosão. Toda intervenção no meio ambiente traz consequências e, nesse
caso, a drenagem da área foi prejudicada”, explicou.
De acordo
com um dos coordenadores do projeto, o geólogo da UFPE, Paulo Nóbrega, a área da
praia do Seixas à praça de Iemanjá apresenta uma morfologia característica, com
enseadas e pontos rochosos se alternando na costa, o que favorece a concentração
da erosão nas pontos em direção ao mar, enquanto as baías são locais
preferenciais de sedimentação, devido à baixa energia das ondas. “A Bareira do
Cabo Bronco é um monumento, um ícone. Não podemos deixá-la ser destruída. Lógico
que não devemos lutar contra o mar, apenas nos defender’, disse.
Obras não têm data para
iniciar
Projeto para conter erosão da
Barreira do Cabo Branco ainda não saiu do papel; obra custa R$ 13
milhões
Apesar das
previsões preocupantes de especialistas para as próximas duas décadas na
Barreira do Cabo Branco, o estudo que custou R$ 677 mil para conter a erosão do
local ainda não saiu do papel Três anos depois, o projeto só possui uma das três
licenças necessárias para começar a obra e esbarra na morosidade do trâmite da
Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Sudema). A construção está orçada em
R$ 13 milhões, mas ainda não tem previsão para começar.
Depois de
três anos de pesquisa, a técnica escolhida foi o enrocamento aderente, uma
estrutura construída paralela à praia com rochas graníticas e revestidas com uma
manta têxtil, que dissipa a energia das ondas e reduz a erosão. “É uma técnica
similar às estruturas montadas nas praias de Boa Viagem e Olinda, que datam do
final da década de 1990 e já apresentam recuperação da área. Se não tiver a
manta têxtil no assoalho, a erosão é maior, por isso só jogar a rocha não
adianta”, explica o geógrafo Williams Guimarães.
Mas o
especialista ressalta que a contenção não vai resolver o problema da erosão.
“Isso é uma ação natural, não tem como evitar, Estamos apenas criando situações
para dar sobrevida às estruturas ancoradas naquele local. Por exemplo, o
prognóstico de perdermos 40 metros em 20 anos pode ser desacelerado para 60 anos
com o enrocamento aderente”.
Segundo
Williams, para dar início à obra são necessárias as licenças: prévia, de
operação e de instalação. A primeira demorou quatro meses para sair. “Dei
entrada em agosto de 2011 e só saiu em dezembro”, disse. Atualmente, a licença
de operação está em trâmite na Sudema mas o andamento do processo retardou ainda
mais porque o Conselho de Proteção Ambiental do Estado (Copam) pediu para
reanalisar o documento. “O processo é moroso. Nossa preocupação é porque estamos
lidando com uma situação urgente e se a obra demorar muito a sair, o projeto
pode perder a credibilidade”.
Morosidade: Projeto só possui uma das três licenças necessárias para começar as obras na Barreira
Geógrafo teme que inverno acelere o
processo
O geógrafo Williams Guimarães teme que o inverno desse ano seja rigoroso e traga mais prejuízos. Na mesma estação do ano passado, a via que compreende o trecho do farol até a rotatória do Cabo Branco caiu. “Na verdade, não deveria nem ter trânsito naquele trecho. Assim como prevê a legislação, toda rodovia localizada em topos de falésias deve ser afastada, no mínimo, 100 metros. Ali, a distância é de aproximadamente 30 metros apenas”, alerta. O renomado paisagista Roberto Burle Marx fez um projeto para impedir o avanço do mar nos anos 1970, mas a concepção nunca foi levada à frente. A erosão costeira é resultante da ação das ondas, do vento, das águas pluviais e da ação do homem, principalmente na retirada da vegetação e construções próximas às falésias. “Temos duas estações bem definidas no nosso Estado: verão e inverno. No verão, o mar deposita areia nas praias. No inverno, o processo é inverso: a areia é retirada. Mas, no nosso litoral, a retirada é maior que a deposição. A erosão causada pelas ondas é justamente essa dinâmica desequilibrada”, esclareceu.
O geógrafo Williams Guimarães teme que o inverno desse ano seja rigoroso e traga mais prejuízos. Na mesma estação do ano passado, a via que compreende o trecho do farol até a rotatória do Cabo Branco caiu. “Na verdade, não deveria nem ter trânsito naquele trecho. Assim como prevê a legislação, toda rodovia localizada em topos de falésias deve ser afastada, no mínimo, 100 metros. Ali, a distância é de aproximadamente 30 metros apenas”, alerta. O renomado paisagista Roberto Burle Marx fez um projeto para impedir o avanço do mar nos anos 1970, mas a concepção nunca foi levada à frente. A erosão costeira é resultante da ação das ondas, do vento, das águas pluviais e da ação do homem, principalmente na retirada da vegetação e construções próximas às falésias. “Temos duas estações bem definidas no nosso Estado: verão e inverno. No verão, o mar deposita areia nas praias. No inverno, o processo é inverso: a areia é retirada. Mas, no nosso litoral, a retirada é maior que a deposição. A erosão causada pelas ondas é justamente essa dinâmica desequilibrada”, esclareceu.
Estima-se
que a Barreira do Cabo Branco tenha recuado cerca de 500 metros, desde tempos
remotos, antes da colonização. De acordo com o projeto, as áreas ameaçadas pela
erosão costeira constam na lista dos locais preferidos pelos turistas em João
Pessoa. Segundo uma pesquisa do Instituto Fecomércio de Pesquisas Econômicas e
Sociais (IFEP/PB), 71,15% visitam o Farol do Cabo Branco e 57,95% a Estação
Ciência.
Professor não acredita em
recuo
O debate da
erosão no litoral pessoense é antigo, mas continua polêmico. Enquanto alguns
especialistas clamam por uma medida emergencial, outros não acreditam na rapidez
do recuo das falésias. É o caso do geólogo da UFPB, Eduardo Galliza, que não
aposta no desmoronamento da falésia, como aponta o estudo da Semam. “O recuo da
falésia não é tão rápido quanto se divulgam. E não existem parâmetros
científicos para afirmar que ela desaparecerá em 20 anos. São apenas
especulações, sem nenhum lastro científico”, argumenta.
O geólogo
também não concorda com nenhuma das alternativas propostas para conter o
processo erosivo na falésia do Cabo Branco. “Creio que é mais uma questão
político-administrativa que envolve grandes cifras. João Pessoa tem inúmeros
outros problemas, inclusive ambientais, que requerem mais atenção e urgência”.
Entretanto, Galliza defende que entre as diversas alternativas propostas ao
longo das últimas décadas a mais adequada, por ser a menos impactante, é a
construção de recifes artificiais.
“Na minha
opinião, colocar muros de contenção ou de arrimo, destruiria a beleza da
paisagem. Mas já cogitaram muitas outras técnicas, como uso de gabiões e até uma
rodovia por baixo da falésia, há 15 anos atrás. Existe uma pressão política no
sentido de se fazer alguma coisa. Mas esse é um fenômeno lento do ponto de vista
geológico. A prioridade deveria ser a disciplina na ocupação do homem nessas
áreas”, alega.
Eduardo
Galliza explica que a erosão não é linear. Ela ocorre onde há a ação mais
intensa das ondas do mar, o que leva ao desmoronamento da barreira. Entretanto,
a própria parte que cai protege mais a falésia evitando outro desmoronamento no
mesmo local. “Esse material, ao se depositar no sopé das falésias, serve de
proteção natural às mesmas. Os blocos ali depositados dissipam parte da energia
das ondas protegendo a área e retardando o recuo da falésia no local”,
disse.
_Colaboração:________________________________
Profº. Ms. Márcio Balbino Cavalcante
Mestrado em Geografia - UFRN
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