24 de fevereiro de 2013

Prejuízos da seca serão sentidos por 10 anos, afirmam produtores



Prefeito de Lajes, Benes Leocádio, criticou “lentidão” do governo em apresentar respostas às consequências da seca. Foto: José Aldenir
Prefeito de Lajes, Benes Leocádio, criticou “lentidão” do governo em apresentar respostas às consequências da seca. 
O primeiro dia da Expedição Retratos da Seca organizada pela Federação da Agricultura do Rio Grande do Norte (Faern)  e que iniciou seu roteiro ontem por Lajes, a 125 km de Natal, expôs problemas  como o fechamento do único armazém para estocagem de milho no município e  a falta de recuperação em 30 poços já existentes  na região, que poderiam abastecer os produtores.
Na Câmara Municipal, ao receber  a expedição formada em sua maioria por jornalistas, o prefeito Benes Leocádio criticou duramente a lentidão do Governo do Estado em dar respostas rápidas a algumas consequências da seca.
Segundo ele,  os problemas da estiagem são recorrentes e conhecidos de todos e que, mesmo assim, ano após ano, tanto o governo federal quanto o estadual insistem em faltar com os compromissos assumidos. E informou que, dos 800 poços identificados no RN a serem recuperados, apenas 70 foram atendidos um ano depois do início da seca.
Leocádio citou ainda um barramento de apenas 300 metros e que a um custo de R$ 10 milhões poderia ter minimizado muito a escassez de água na região, mas que não  foi executado por desinteresse da administração estadual.
Sobre a desativação do armazém da Conab no município, Benes Leocádio disse que a prefeitura já gastou  R$ 40 mil para mantê-lo desde sua instalação, em abril do ano passado, quando passou a aplicar R$ 3 mil todos os meses. “Foi um esforço em vão”, afirmou.
No final da visita da comitiva à Câmara municipal surgiu a informação de que o Governo Federal pretende abastecer o RN com mais 111 mil toneladas  de milho até o final deste ano e que Lajes será atendido com 1.200 toneladas em três etapas, uma vez que o armazém local só tem capacidade para  300  toneladas.
O problema, segundo informaram algumas fontes, é que a Conab não disporia de pessoal para organizar a distribuição do milho aos produtores, mas estuda-se  a possibilidade de resolver isso ainda na próxima semana.
Produtores que participaram do encontro na Câmara de Lajes  se queixaram ainda que o milho dos estoques da Conab chegaram tarde demais  à região ,no fim do ano passado, provocando grandes perdas nos rebanhos.
Na região Central do estado, de acordo com o depoimento de vários produtores ouvidos em propriedades visitadas pela Expedição, 40% do rebanho foi dizimado pela seca. Segundo os cálculos deles,  os prejuízos só serão repostos em 10 anos e com invernos chuvosos.
Para verificar a veracidade dessa informação, a  primeira parada da Expedição foi a Fazenda Gavião, na zona rural de Lajes, onde o proprietário Edson Luiz Cavalcanti criava 150 cabeças em 740 hectares e hoje viu seu rebanho reduzido para apenas 42 cabeças. “O que não foi vendido morreu por falta de comida e água”, lamentou o produtor, obrigado a receber qualquer preço pelos animais vendidos.
Não muito longe do celeiro da propriedade, o criador mostrou aos jornalistas a ossada de 50 animais que foram jogados para urubus nos últimos dois meses. As ossadas limpas se misturavam a carcaças que foram  transportadas assim que os bichos morriam.
Obrigado a pagar R$ 140,00 por tonelada de bagaço de cana trazido da Paraíba, o produtor ainda é obrigado a desembolsar mais R$ 300,00 pelo frete. Segundo o presidente da Faern, José Vieira, esse mesmo bagaço só é encontrado hoje em Alagoas, a R$ 130,00 a toneladas, mais R$ 1.800,00 pelo frete.
Sem recursos para buscar volumoso de melhor qualidade fora do estado, o produtor Arno Angelino, de Lajes, percorre todos os dias 12 quilômetros de ida e volta para transportar de carroça um pouco de palha de cana para alimentar os 22 animais de seu terreno de 17 hectares. O resto de água do açude Caraúbas se encarrega de dar de beber ao gado cada vez mais magro.
A Expedição Retratos da Seca, à medida que avançava por outras propriedades, constatou que o sodoro queimado para servir de alimento começa a escassear, retirando a única possibilidade de alimentar o rebanho.  As chuvas que caíram esparsamente na região não foram suficientes para tirar os produtores de uma profunda inquietação que eles vivem nesse momento, quando as previsões ainda são incertas e o socorro chega tardiamente ou simplesmente não chega.
Ontem, ao fazer um balanço do primeiro dia da Expedição Retratos da Seca, o presidente da Federação da Agricultura, José Vieira, explicou que a  função da iniciativa estava atendida: mostrar a situação dos produtores rurais sem retoques. “Por isso mesmo, não convidamos representantes do governo do estadual e nem incorporamos ao roteiro os políticos, apenas os jornalistas, para que eles testemunhassem a situação com os próprios olhos”, afirmou.
Na avaliação de Vieira, no primeiro dia da expedição que só termina no final deste domingo, os fatos estão provando que não existe uma política continuada de combate à seca e que a consequência disso para quem realmente produz no campo será desastrosa.

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