23 de agosto de 2013

Filho de PM teria dito a amigo que tentou dar flechada em avó

Em depoimento à polícia, um amigo de Marcelo Pesseghini disse que numa ocasião o garoto contou que havia tentando dar uma flechada na avó, mas não tinha conseguido. O menino de 13 é suspeito de matar a família e depois se suicidar na Brasilândia, Zona Norte de São Paulo, no início deste mês.
Outro depoimento revelou que um dia Marcelo chegou à escola orgulhoso e contente dizendo ‘hoje meu pai matou dois bandidos’. Uma funcionária da escola que também já depôs, revelou que os pais foram chamados e advertidos que não deveriam fazer esse tipo de comentário perto dele.
No dia do crime, Marcelo estava cabisbaixo dentro da sala de aula, e um dos amigos perguntou, brincando: 'tentou matar a avó de novo e não conseguiu?' Marcelo respondeu 'não, hoje consegui'. Um dos meninos disse também que naquele dia antes de entrar na sala de aula, Marcelo foi pra uma roda de amigos e disse ‘hoje matei meus pais’.
Câmeras de segurança gravaram Marcelo saindo da escola no dia que a polícia acredita que ele tenha cometido os crimes. Amigos que já prestaram depoimento ajudaram a polícia a traçar um perfil do menino. Um dos garotos falou que um dia Marcelo chegou à escola com um ferimento no rosto. O amigo perguntou o que era. Ele disse que havia atirado com uma pistola ponto quarenta, e o tranco da arma o machucou. Ponto quarenta foi a arma usada contra toda a família.
Médica
A pneumologista Neiva Damaceno, que acompanhou o tratamento de Marcelo Pesseghini, de 13 anos, contra a fibrose cística, prestou depoimento nesta quinta-feira (22) na polícia e reafirmou que nem a doença nem os remédios poderiam provocar alterações no comportamento do garoto. Ele é suspeito de matar a família e depois se suicidar na Brasilândia, Zona Norte de São Paulo, no início deste mês.
O Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) queria saber se o uso contínuo de medicamentos poderia ter contribuído para os crimes. O depoimento dela terminou por volta das 13h na sede do departamento, no Centro. "O que eu disse foi exatamente o que eu venho dizendo para muitos de vocês. Os medicamentos não causam nenhuma alteração no comportamento. Tampouco a doença", disse a médica ao deixar o DHPP acompanhada de dois advogados.
Médica deixa DHPP na tarde desta quinta-feira  (Foto: Kleber Tomaz/G1)Médica deixa DHPP na tarde desta quinta-feira
depois de depoimento (Foto: Kleber Tomaz/G1)
A pneumologista acompanhou o tratamento de Marcelo  contra a doença desde a sua infância na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Em entrevista ao G1, ela já havia adiantado o que iria declarar aos investigadores. Mais de 30 pessoas já foram ouvidas pela polícia para tentar esclarecer o caso.
“Os medicamentos que tomava não tinham implicação ou efeito colateral. Os remédios não mudaram seu comportamento ou lhe trouxeram transtornos psicológicos. Essa doença também não comprometia o desenvolvimento neurológico ou mental. Também não há relato de uso de droga, de anormalidade de comportamento”, disse a médica nesta quarta.
O adolescente é apontado pelo DHPP como o principal suspeito dos disparos que mataram seus pais, o sargento das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Luís Marcelo Pesseghini, de 40 anos, e a cabo Andreia Regina Bovo Pesseghini, de 36 anos, a avó materna Benedita de Oliveira Bovo, de 67 anos, e a tia-avó Bernadete Oliveira da Silva, de 55 anos. Os crimes foram cometidos nas casas de um mesmo terreno onde todos moravam. O motivo dos assassinatos e do suicídio ainda não são conhecidos.
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Medicamentos
Entre os medicamentos que Marcelo tomava estavam vitaminas, insulina injetável e outros remédios. A fibrose cística é uma doença genética que afeta o funcionamento de secreções do corpo, levando a problemas nos pulmões e no sistema digestivo. Ela não tem cura e pode levar à morte precoce. Quando era bebê, alguns médicos teriam dito aos pais que ele não sobreviveria até os 4 anos. A polícia investiga se os crimes poderiam estar relacionados à doença do garoto, que teria pouca expectativa de vida.
“Ele não corria nenhum risco de morrer. Estava ótimo. Chegou à segunda década de vida em condições excelentes de saúde”, disse a médica que atendeu Marcelo pela última vez duas semanas antes do crime.
Questionada pela equipe de reportagem se ela acredita na versão apresentada pela polícia de que foi seu paciente que assassinou a família e se matou em seguida, Neiva respondeu: “Para mim ainda é inexplicável. Foi um susto, um choque, uma surpresa”.
Segundo a médica, Marcelo ia para o tratamento na Santa Casa acompanhado da mãe e da avó materna e, eventualmente, pelo pai. “Me lembro de um menino educado, sorridente, carinhoso que nunca teve transtorno de comportamento”, disse Neiva.
 
Crime
Para a polícia, Marcelo assassinou a família entre a noite do dia 4 e a madrugada do dia 5. A investigação aponta que, depois, ele foi para o Colégio Stella Rodrigues com o carro da mãe de madrugada, assistiu às aulas pela manhã, confessou os crimes a colegas, retornou de carona para a residência da família na Brasilândia, e se suicidou.
Novas imagens de câmeras de segurança mostram os dois colegas deixando a escola ao lado de Marcelo, no dia 5 de agosto. Cerca de dez minutos depois, ele atravessa a rua e pega carona com o pai de um outro amigo para ir para casa.
Para o delegado do DHPP, Itagiba Franco, os depoimentos auxiliam a traçar um perfil psicológico do garoto, que é o principal suspeito da polícia. Trinta e cinco pessoas já foram ouvidas.
Na quarta-feira, o delegado-geral da Polícia Civil, Maurício Blazek, disse que, apesar das investigações ainda não terem terminado, todas as evidências apontam para Marcelo como autor dos crimes.
Laudos necroscópicos e da cena do crime que estão sendo feitos pela Polícia Técnico-Científica devem ficar prontos nos próximos dias e vão esclarecer questões ainda não explicadas pelas investigações, como a provável hora em que cada um morreu, quem foi baleado primeiro e porque a mãe foi a única que parecia estar acordada quando foi baleada. Ela estava ajoelhada sobre o colchão onde o marido dormia e com as mãos cruzadas sob a cabeça. As demais vítimas pareciam ter sido assassinadas durante o sono.

Surto
Na opinião do psiquiatra forense Guido Palomba não há dúvidas de que Marcelo matou a família. O especialista, que foi convidado pela Polícia Civil para acompanhar as investigações do DHPP, sugeriu ainda que o adolescente pode ter tido um surto psicótico.
"Possivelmente ele estava num estado de anormalidade mental, num estado de estreitamento de consciência. Nesse estreitamento de consciência ele praticou os delitos, pegou o automóvel, dormiu dentro do carro, foi a aula, saiu da aula e chegou em casa. Quando ele chega em casa a mente volta para o normal, digamos assim. Ela sai daquele estreitamento, ele tem consciência daquilo que aconteceu e se suicida", disse Palomba na quarta-feira (21) ao SPTV.
'Os Mercenários'
A Polícia Civil apura ainda se mais pessoas sabiam do grupo
"Os Mercenários", que teria sido criado pelo adolescente para matar desafetos - inclusive familiares. Três colegas de escola do garoto disseram em depoimento que o aluno criou o grupo inspirado no game "Assassins Creed".

Segundo autoridades ligadas à investigação, no grupo "Os Mercenários" havia uma lista com nomes de desafetos que deveriam ser mortos. Um dos nomes seria o da diretora do Colégio Stella Rodrigues, Maristela Rodrigues.

Ganhariam pontos quem matasse parentes num paralelo com o game, que dá pontos ao jogador. Para os colegas, no entanto, o grupo seria uma diversão e não havia intenção de ser colocado em prática.

A influência do jogo de videogame foi citada também pelo advogado Arles Gonçalves Júnior, presidente da comissão de segurança da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP). Na sexta-feira (16), ele afirmou que os depoimentos prestados revelam que o menino apresentou uma mudança de comportamento influenciada pelo jogo de videogame.

Marcelo usava a imagem de um personagem do
"Assassins Creed" no seu perfil do Facebook. O suspeito trocou a foto do perfil no dia 5 de julho. Esta foi a última atualização de Marcelo na rede social.

No dia 8 deste mês, a desenvolvedora de games Ubisoft, criadora do jogo Assassin's Creed, divulgou nota de
repúdio à ligação feita entre o jogo e o assassinato da família Pesseghini.

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