12 de setembro de 2013

Após contrair HIV do marido, mulher abandona 'dogmas' e auxilia doentes

'É possível viver bem com o HIV', garante (Foto: Marina Fontenele/G1)
 
'É possível viver bem com o HIV', garante (Foto: Marina Fontenele/G1)

A vendedora de produtos de beleza Maria Clara, 55 anos, não poderia imaginar que quatro anos depois de descobrir que é soropositiva estaria tão satisfeita com a direção que a sua vida tomou.
Ela estava casada havia mais de 30 anos, tinha uma vida estável, mas não planejava o futuro. “Antes de tudo acontecer eu não tinha uma vida com planos pessoais. Vivia em função dos filhos e do marido”, lembra. Hoje, o que para muitos pode ser uma tragédia, para Clara foi uma mudança que trouxe ‘mais flores do que espinhos’.

Em fevereiro de 2009, Maria Clara se deparou com uma situação diferente no casamento. O marido corria para hospital com hemorragia e febre. A equipe médica pediu autorização para realizar um exame. O resultado mostrou que o esposo estava com HIV e trouxe também mais uma novidade. De acompanhante, ela passava a ser paciente.
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Doze dias depois ele morreu, e ela continuava com as dúvidas e incertezas do que estava acontecendo em sua vida. “Fui ao padre, estava muito angustiada, mas a frase de apoio que ouvi só me enfraqueceu: ‘Iguais a você tem milhares aqui na igreja’. Ela lembra o quanto isso a revoltou, pois já chegou a partilhar com o religioso sobre a possibilidade de usar camisinha durante o casamento.
“Mas a atitude não era aprovada pela igreja e eu obedeci”.

Mesmo com o desamparo, Maria não perdeu a fé. “Foi ela quem me segurou. Ainda fiquei um ano isolada com todos os sintomas da depressão”. Foi então, que Clara procurou o Centro de Infectologia de
Aracaju e recebeu todas as orientações de como lidar com o novo destino. Esse encontro foi um divisor de águas em sua vida. “Deixei de ser a garota que casou aos 17 anos, teve quatro filhos e semrpe foi obediente ao marido e à igreja”, garante.

No começo das reuniões com o grupo de apoio, Clara comentou que foi um choque. “Fiquei surpresa com o meu preconceito. Lá tinham pessoas de todas as classes sociais desde os engravatados, até garotas de programa”, detalha.

Inicialmente o contato deixava Maria inquieta. “Todos os meus conceitos e princípios de vida estavam sendo reavaliados”, recorda.

Hoje, além de Maria Clara fazer parte do grupo de adesão ela também vestiu a causa dos soropositivos no estado, se aliando a 238 mulheres que lutam por melhores condições de tratamento da doença. Uma luta, segundo ela, sem barreiras.

“Sou católica, mas informei que em momento algum ele [o padre] falasse da proibição do uso ao preservativo na minha frente, pois iria debater em qualquer lugar, até mesmo na missa”, defende.

O irmão de Maria também é padre. “Sinto que estamos vivendo um momento muito novo. O meu irmão não concorda, mas percebo a dúvida no olhar dele quando trago mais informações sobre o assunto”, observa.

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