Água potável: desafios e dilemas
no século XXI
Prof.º Msc. Márcio Balbino
Cavalcante
Mestre em Geografia - UFRN
A ideia
de que a água é o recurso natural mais abundante no Planeta Terra não é
incorreta, porém, pouco destaque é dado ao fato de que desta grande abundância,
apenas 0,008 % está disponível ao consumo humano, o restante é constituído por
águas salgadas, geleiras e águas subterrâneas de difícil captação. A escassez
de água potável é hoje um problema crônico em diversas regiões do mundo, como
na África e Ásia.
O
Brasil é privilegiado em recursos hídricos. Com 17% de toda a água doce do
planeta, o nosso país conta com a maior área continental úmida do mundo, o
Pantanal, e a mais extensa floreta alagada, a várzea amazônica. Teoricamente,
cada brasileiro tem cerca de 34 milhões de litros de água à sua disposição.
Apesar de todo esse potencial, o país ainda sofre com a falta de água, o risco
de desabastecimento em larga escala pode surgir decorrente principalmente da
utilização inadequada da água.
O nosso
país apresenta uma situação de exploração e uso predatório de seus recursos. A
poluição das águas, o assoreamento dos rios e o desperdício contribuem para o
problema da escassez. Conforme dados do IBGE (2012), as empresas de
abastecimento de água brasileiras apresentam índices de perda de água tratada
de até 60%. Nas nações desenvolvidas, esses números chegam a no máximo 20%. Por
isso, o Brasil é considerado um dos campeões de desperdício de água no mundo.
A
constatação geral, nesse início de século, é que a água potável do planeta está
acabando e num futuro próximo será um recurso extremamente valioso, capaz de
sustentar potências mundiais ou provocar guerras, a exemplo do que acontece
hoje com o petróleo. No meio dessa discussão, quando o mais sensato seria
conservar essa riqueza a todo custo, estudos apontam para a contaminação do
maior reservatório subterrâneo de água doce conhecido no mundo, o nosso Aqüífero
Guarani, localizado no sudeste e norte do país, são 45 mil quilômetros cúbicos
de água subterrânea, num total de aproximadamente 1,2 milhões de km2
quadrados de área. Em termos de abastecimento, significa dizer que ele pode
suprir as necessidades de uma população de 150 milhões de pessoas durante 2,5
mil anos. Com a vantagem adicional de que a água subterrânea, geralmente, não
precisa ser tratada para o consumo, pois a filtragem natural das rochas pode
alcançar um nível de qualidade que dificilmente seria atingido pelos processos
tradicionais.
As causas
básicas do crescimento da demanda de água são: o crescimento da população, a
urbanização e a expansão da agroindústria, e as perspectivas para o futuro são
preocupantes.
Com as
perspectivas existentes para as primeiras décadas do século XXI, quanto ao
crescimento populacional, o desenvolvimento das cidades deverá respeitar os
limites da natureza. As esferas governamentais deverão impor restrições ao
crescimento desordenado das cidades, distribuindo de forma racional os centros
urbanos, com vistas a minimizar os impactos sobre os recursos hídricos e bens
naturais, evitando assim, uma elevação nos custos da manutenção das
necessidades básicas de água das populações.
Além
das fontes comumente utilizadas para o abastecimento, como é o caso dos nossos rios
e nascentes, primeiros a sofrer as ações negativas da nossa urbanização,
condenados a serem depósitos de lixo.
As
alternativas exitosas que poderão ser utilizadas para o abastecimento no
futuro, podem ser elencadas: a reutilização da água resultante do tratamento de
esgotos, também conhecida como água de reuso (esta alternativa por receber um
tratamento mais simples e barato que a água potável, possui um preço final
menor).
Outra
alternativa que podemos citar é a utilização da água da chuva para fins
alternativos. Essa possibilidade somente será viável em aplicações que
dispensam o tratamento de potabilidade, e somente terá eficiência se adotada em
locais onde houver incidência de chuvas periódicas. Com a adoção desta medida, obteríamos
reduções nos volumes consumidos de água potável, trazendo benefícios econômicos
para os consumidores e benefícios ambientais para a sociedade em geral.
A
educação ambiental como forma de preservar e demonstrar a importância dos
recursos hídricos é um assunto que somente começou a ser abordado no final da
década de 70. Até hoje, em pleno século XXI, não é difícil encontrar pessoas
que não consideram a importância do problema da escassez da água potável.
A
educação ambiental surge como um forte aliado na luta pelo desenvolvimento de
uma nova consciência social, política e ecológica comprometida com a
preservação das gerações futuras, que passa pelo reconhecimento da fragilidade
da Terra, dos limites finitos dos recursos naturais, da nossa dependência do
ar, da água, da luz, do calor, da afinidade com todas as formas de vida do
planeta, em especial a espécie humana.
Faz-se
necessário ressaltar, que embora a água seja a substância mais abundante do
planeta, apenas uma pequena parte do total existente no mundo é viável à
captação e ao consumo, não estando presente na forma de geleiras, água salgada
ou no subsolo a grandes profundidades. A poluição ocasionada pelo uso
irresponsável dos recursos hídricos e o crescimento populacional vêm agravando
esta realidade.
Contudo,
conclui-se que as perspectivas para a gestão da água potável no Brasil são
preocupantes, uma vez que o crescimento demográfico e a expansão urbana
desordenada vêm atingindo índices muito superiores, se comparados às
possibilidades de utilização das fontes de abastecimento, fazendo com que a
água seja qualificada como o petróleo do
século XXI e conseqüentemente, motivo de disputas entre os países do globo,
ocasionando a geopolítica da água.
Para
concluir, saliento que para o problema da escassez da água seja minimizado deve
ocorrer à união de esforços, cabendo, portanto, à população conscientizar-se
sobre o tema, participando das discussões junto aos comitês de bacias. Às
empresas cabe a adoção de tecnologias capazes de reduzir a demanda e o despejo
de efluentes nos corpos hídricos. Ao governo, resta a aplicação da legislação
existente através da fiscalização do uso dos recursos hídricos e coibindo sua
degradação. Somente desta forma se conseguirá reduzir os efeitos deste
problema.
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