A Saúde no Rio Grande do Norte passa por uma grave crise que
atinge o serviço de atendimento hospitalar. Em pouco mais de 10 meses, o
governo já encerrou as atividades da unidade do município de Canguaretama,
estuda o fechamento do Hospital Ruy Pereira, em Natal; deixou de renovar
contrato com médicos cooperados – o que afetou a realização de cirurgias
ortopédicas –, e permanece com constantes atrasos no pagamento de fornecedores.
Nesta terça-feira, 5, médicos em falta, pacientes sem
atendimento e familiares em desespero davam a tônica do Hospital Deoclécio
Marques, em Parnamirim, a maior unidade de referência para o atendimento de
cirurgias ortopédicas no Estado. Os serviços prestados pelos médicos cooperados
que atuam na unidade foram suspensos desde às 7h.
A crise no hospital foi deflagrada após o encerramento do
contrato entre o Governo do Estado e a Cooperativa Médica do Rio Grande do
Norte (Coopmed). O prazo se extinguiu em 31 de outubro e não foi realizada nova
licitação para renovar a prestação de serviço. Segundo a entidade
representativa, mais de 100 pessoas estão aguardando por uma cirurgia. Até o
fim do contrato, ainda de acordo com a Coopmed, o hospital realizava cerca de
2,5 mil cirurgias por mês.
Antes disso, em julho passado, a Secretaria Estadual de Saúde
(Sesap) desativou os serviços do Hospital Regional de Canguaretama. A medida
decorreu de uma fiscalização da Subcoordenadoria de Vigilância Sanitária do
Estado (Suvisa), que concluiu que o local não tem condições de funcionamento.
Outra unidade prestes a fechar as portas é o Hospital Ruy
Pereira dos Santos, em Natal, que é referência para o atendimento de pacientes
com problemas vasculares. Enfrentando graves falhas estruturais, os pacientes
do local terão de ser remanejados para outros hospitais públicos. A expectativa
é de que a estrutura encerre as atividades até o fim deste ano.
Em março de 2019, houve a suspensão do fornecimento de
refeições para acompanhantes de pacientes e funcionários de hospitais da Região
Metropolitana de Natal.
O deputado estadual Nélter Queiroz, do MDB, criticou a gestão
da Saúde no Rio Grande do Norte. Para ele, ferrenho crítico das políticas
públicas para o setor, o atual secretário estadual de Saúde, Cipriano Maia,
deveria renunciar ao cargo. “Cipriano Maia tem aquela boca sorridente, mas não
está nem aí. Caro Cipriano, entregue esta secretaria. O senhor não tem
competência. O povo está morrendo à míngua”, reclamou.
Ainda de acordo com ele, o problema da Saúde não se deve
apenas à falta de recursos, mas pela incompetência dos gestores públicos
estaduais. “Falta planejamento, falta gestão, falta competência. O Hospital
Deoclécio Marques, em Parnamirim, não pode ficar assim”, ressalta. O próprio
Nélter Queiroz tem na família um caso que se relaciona com a falência do
sistema público de saúde. Uma tia do deputado estadual passou mais de 100 dias
aguardando uma cirurgia ortopédica no Hospital Deoclécio Marques.
“Fora fechados os hospitais, não há repasse para o Hospital
Varela Santiago, entre outros problemas. Com isso, a governadora Fátima Bezerra
vai ficar conhecida como ‘Fátima Cadeado’, ou seja, passando cadeado nas ações
de saúde”, concluiu Nélter.
Sesap promete retomar as cirurgias do Deoclécio Marques
A Secretaria Estadual de Saúde Pública iniciou nesta
terça-feira, 5, a organização do novo fluxo de trabalho do Hospital Deoclécio
Marques, em Parnamirim, após o encerramento do contrato firmado com a
Cooperativa dos Médicos do Rio Grande do Norte (Coopmed).
Segundo a pasta, por meio da assessoria de comunicação, a
projeção é de que as cirurgias possam ser retomadas em breve, embora tenha sido
identificada a necessidade de organizar os fluxos de trabalho para conseguir
atender aos pacientes. No entanto, o órgão não definiu prazos para encerrar
esta nova organização dos trabalhos.
A pasta informou, também, que há médicos atuando no Deoclécio
Marques e que os pacientes que necessitam de cirurgias estão sendo monitorados
por ortopedistas, que avaliam a situação dos casos. Para medidas mais urgentes,
o Hospital Walfredo Gurgel vai receber a demanda.
Sobre a relação do Estado com a Coopmed, a Sesap informou que
o contrato foi encerrado por motivos legais, pois o prazo se encerrou no dia 31
de outubro. Ainda de acordo com a Secretaria, um novo processo licitatório será
aberto, possivelmente até o fim desta semana, para contratar nova empresa que
irá fornecer o serviço de médicos ortopedistas. Outra possiblidade é convocar
42 médicos ortopedistas a partir do concurso público da Saúde, realizado em
2018.
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