Os desdobramentos da saída
de Lula da prisão ainda irão gerar muito eco no mundo político. A esquerda
ganha uma liderança que ainda faltava no jogo de poder. Sem rumo desde que
Bolsonaro venceu o pleito presidencial, a oposição ganha a oportunidade de se reorganizar
e realmente traçar uma estratégia real de se colocar contra as ideias do
governo.
Lembro que o petismo perdeu
o Planalto, mas venceu no pleito proporcional. O partido de Lula conseguiu a
maioria da Câmara dos Deputados, mesmo com a expressiva votação obtida pelo
PSL. Isto, entretanto, ainda não se traduziu em ações no Parlamento.
As esquerdas, de um modo
geral, se mostram acuadas, sem rumo e estratégia nos caminhos da política
parlamentar. Isto é algo que pode mudar de forma sensível com a volta de Lula
ao palco político, assim como de outras estrelas do petismo, como José Dirceu.
Do lado governista, a
notícia da libertação de Lula também soou como uma oportunidade. Para
Bolsonaro, que sempre mantém a temperatura política acesa, o retorno do petista
serve para fortalecer sua posição de antagonista das esquerdas, sedimentando
ainda mais a liderança entre seu eleitorado. O clima eleitoral voltou, assim
como deve voltar a polarização ainda em grau máximo, um mecanismo que
retroalimenta a ambos e serve de combustível para suas militâncias.
Se o governo até aqui
precisava lidar apenas com os seus fantasmas, o jogo começa a mudar. Os
problemas alcançam novo patamar e começam a passar ao largo do que era o
cotidiano, afinal, se as esquerdas se articularem de forma estratégica diante
do retorno de suas lideranças, a oposição parlamentar, até então perdida, pode
encontrar rumo e começar a participar de forma ativa do jogo político, causando
enormes problemas de governabilidade.
É preciso entender até que
ponto o ressurgimento de um inimigo comum nas esquerdas servirá para unificar,
em torno de Bolsonaro, o sentimento antipetista que o levou ao poder. O
desgaste do primeiro ano de governo já descolou Bolsonaro do eleitorado
centrista. Seu apoio hoje está concentrado em bolsões mais a direita e torna-se
importante entender se o centro ainda enxerga o presidente como a única opção
viável do antipetismo.
Por tudo isso, a volta de
Lula ao cenário altera a dinâmica política, seja no papel de reorganizador das
forças de esquerdas, fornecendo combustível para militância fanática e que
carrega consigo uma ideia fantasiosa de liderança que hoje embora não seja a
mesma de alguns anos atrás é notória a habilidade política no jogo parlamentar,
como também no campo da direita, que reencontra o inimigo comum que pode
aglutinar forças em torno de Bolsonaro. A certeza é que o Brasil segue no
perigoso limiar da polarização. Uma simples fagulha pode acender as ruas e
confrontos, algo que nossa jovem democracia teria muita dificuldade em lidar.
Neste cenário, nossas instituições, pilar de nossa democracia e liberdades,
estariam mais uma vez colocadas em risco. Mais do que nunca, o Brasil precisa
moderação e ponderação, de ambos os lados.
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