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A Semana Santa é uma celebração que, a exemplo do
Natal, tem Jesus Cristo por figura principal. No entanto, nesse feriado, o
protagonismo do enredo religioso é dividido, por contraste, com o vilão Judas
Iscariotes, o apóstolo que traiu Cristo por 30 moedas e que por isso
há dois mil anos é queimado pelos cristãos.
Desvio rápido
Faço aqui um breve desvio. Na perspectiva formal da
técnica narrativa da história de Jesus, Judas cumpre uma missão singular e
fundamental, que é a de conferir uma carga dramática adicional e um sentido aos
eventos finais da vida do Salvador. Sem a fraqueza de Judas não haveria o
a paixão e o sacrifício de Cristo, peças fundamentais para a estruturação da
liturgia e teologia católica. Sem o episódio da traição, Jesus não teria como oferecer
a Deus o seu martírio pela salvação dos homens.
Deixando essas ponderações de lado e voltando ao
roteiro inicial do raciocínio que me fez escrever este post, fico a pensar no
valor simbólico de Judas em nossa cultura atual, especialmente no campo da
política, onde a traição é comum quando se leva em conta
interesses próprios e os princípios são deixados de lado em
troca do que no momento mais lhes convêm.
Se no plano religioso Judas encarna o repúdio ao
que é vil e desonesto, no plano material da vida secular essa aversão não se
incorporou, pelo menos entre nós é o que temos visto, como um valor moral de
amplo espectro, capaz de atuar ativamente sobre outras esferas da vida comum.
Na verdade, costumamos a ser bem tolerantes com certos vícios, alguns dos quais
apelidamos carinhosamente de “jeitinho”, e assim sem se importar com a opinião
publica ou daqueles que lhes deram o mandato, esses são esquecidos e a conduta
ética jogada fora.
Sobre os muitos Judas que atuam no presente. Mas
agora, ao traçar estas linhas, mudei de ideia. A comparação entre o apóstolo
caído e os farsantes de hoje é uma injustiça com o primeiro. É que com seu ato
deplorável, Judas Iscariotes acabou por contribuir, ainda que por caminhos
tortos, com a consolidação da doutrina cristã, e uma vez arrependido do mal que
praticou, penitenciou a si mesmo com a mais dura das penas, para o caso aqui
descrito somente o tempo e o povo dará a pena merecida.
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