25 de junho de 2015

Interceptação revela que preso no RN ordenava execução de rivais; ouça

Além de monitorar a aquisição, transporte, armazenamento e revenda de drogas, e ainda o tráfico de armas e assaltos na região Oeste potiguar, o preso José Jocenildo de Morais Fernandes, o Nildinho, também ordenava a execução de rivais. É o que revela uma das interceptações telefônicas (ouça o áudio acima) feitas pelo Ministério Público como peça de investigação da operação ‘Pedra Sobre Pedra’, deflagrada na manhã desta quinta-feira (25).
G1 também teve acesso a outras gravações, todas devidamente autorizadas pela Justiça, nas quais o detento encomenda armas, pede pra que fotos sejam enviadas para ele pelo aplicativo WhatsApp, e até repreende um traficante ao reclamar da pesagem de uma encomenda de drogas.
José Jocenildo de Morais Fernandes, mais conhecido como 'Nildinho' (Foto: Divulgação/PM)José Jocenildo de Morais Fernandes, mais
conhecido como 'Nildinho' (Foto: Divulgação/PM)
Na gravação na qual Nildinho deixa claro que um rapaz deve ser executado, ele fala para um comparsa: “Você diz a ela (mulher que está presa em Mossoró) que se não devolver é sal”, diz o preso, ameaçando matar o filho dela. Nildinho, que segundo o MP foi o principal alvo da operação, recebeu voz de prisão dentro do Presídio Rogério Coutinho Madruga, onde cumpre pena desde 2013. A unidade que também é conhecida como Pavilhão 5 da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, é a maior do sistema prisional potiguar. Ainda de acordo com o Ministério Público, o detento foi condenado a 37 anos e 6 meses de prisão por homicídio, além de também ser acusado de participação em explosões a caixas eletrônicos.
Na interceptação, Nildinho e um homem (não identificado no áudio) conversam sobre um rapaz que estaria devendo alguma coisa, algo que era preciso ser devolvido urgentemente. “Mas rapaz, e esses boyzinho véio aí, é dá onde ele, é de lá mesmo?”, pergunta Nildinho. “A mãe desse boy tá preso aí na Mário (Penitenciária Agrícola Dr. Mário Negócio, em Mossoró), tá entendendo? É dois menino. Esse cara tá com um mês que chegou aí, tá ligado? A véia ligou aqui chegou aqui chorando, dizendo que tá com dois meses que mataram o marido dela... Lá é uma vila, com o portão só escorado, tá ligado? Aí eu botei o boy lá. O boy quando chegou lá mais Ariton, o portão tava trancado, né? Aí eu disse: é, vou matar tudinho. Aí a véia ligou aqui desesperada, não sei o que... pelo amor de Deus, faça isso comigo não, que eu só tenho meu filho. Eu vou falar com ele. Ele vai ter que devolver, porque eu sou mulher de bandido. O meu marido a polícia matou, não sei o que...”, disse o homem que conversa com Nildinho. “Você diz a ela que se não devolver é sal!”, emenda o preso, como se mandasse o homem matar o rapaz caso a mulher não fizesse o que era pra ser feito. Do outro lado da linha, o homem concorda com Nildinho e afirma que já teria mandado o recado pra mulher: “Eu disse a ela. Rapaz, se não devolver, dona Maria, ele não vai dar tempo de ir embora não”, acrescentou.
Pavilhão Rogério Coutinho Madruga, em Alcaçuz (Foto: Ricardo Araújo/G1)Presídio Rogério Coutinho Madruga,
o Pavilhão 5 de Alcaçuz (Foto: Ricardo Araújo/G1)
Operação Pedra Sobre Pedra
A operação 'Pedra Sobre Pedra' foi coordenada pelo Ministério Público, que contou com o apoio da Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal. Aconteceu logo nas primeiras horas da manhã desta quinta-feira (25), dando cumprimento de 13 mandados de prisão e 11 de busca e apreensão nas cidades de Caraúbas e Apodi, na região Oeste do estado, e em Natal e Nísia Floresta, na região Metropolitana da capital.
Segundo o MP, mesmo encarcerado, José Jocenildo de Morais Fernandes é apontado como líder do tráfico de drogas, tráfico de armas e assaltos em várias cidades da região Oeste potiguar. "O preso estruturou toda uma rede organizada para aquisição, transporte, armazenamento e revenda de drogas", afirmou.
Agentes penitenciários do Pavilhão 5 fazem buscas na cela do preso apontado como líder do esquema (Foto: GOE/Grupo de Operações Especiais)Agentes penitenciários do Pavilhão 5 fazem buscas na cela do preso apontado como líder do esquema (Foto: GOE/Grupo de Operações Especiais)
Vasta ficha criminal
De acordo com o Ministério Público, Nildinho é amplamente conhecido no meio policial. "Ele já fugiu algumas vezes do sistema penitenciário sendo denunciado a primeira vez como um dos autores do homicídio do agropecuarista Vicente Veras e do motorista Erimar Bezerra Alves, ocorrido na Comarca de Campo Grande em maio de 2003. Na ocasião, cometeu o crime juntamente com José Valdetário Benevides Carneiro e outros, sendo condenado à pena de 37 anos e 6 meses de reclusão".
Ocorre que Nildinho, ainda segundo o MP, não chegou a cumprir a condenação, pois conseguiu fugir da cadeia onde estava recolhido. "Foi preso novamente em novembro de 2011. Na época estava atuando na explosão de caixas eletrônicos. Mais uma vez, porém, conseguiu escapar da cadeia. Voltou a ser preso por Policiais do BPChoque em setembro de 2013, na Avenida Roberto Freire, em Natal, com identidade falsa", acrescentou.
Por fim, o MP disse que desde 2013 detido no Pavilhão 5 de Alcaçuz, Nildinho passou a se dedicar ao tráfico de drogas e, "com o auxílio da esposa e de um irmão, além dos investigados acima nominados, estruturou uma rede para o tráfico de drogas em sua cidade de origem, Apodi, tendo afastado outros traficantes que atuavam na área, de modo a transformar Apodi no seu reduto do crime".
Interrogatório
José Jocenildo foi interrogado na manhã desta quinta-feira por integrantes da comissão de Promotores de Justiça encarregada das investigações. "O preso negou todos os crimes que lhe são atribuídos. Em razão do envolvimento nos crimes investigados, o detento foi transferido para o isolamento da unidade prisional", concluiu.
Flagrantes
No cumprimento dos mandados na cidade de Apodi ainda foram realizadas prisões em flagrante pelos crimes de tráfico de droga e posse ilegal de arma de fogo.
Agentes da Polícia Rodoviária Federal utilizaram até cães farejadores nas revistas feitas dentro do CDP de Apodi, na região Oeste potiguar (Foto: Márcio Morais/G1)Agentes da Polícia Rodoviária Federal utilizaram até cães farejadores nas revistas feitas dentro do CDP de Apodi, na região Oeste potiguar (Foto: Márcio Morais/G1)
Operação Alcatraz
A operação 'Alcatraz' foi deflagrada no dia 2 de dezembro do ano passado e cumpriu 223 mandados de prisão em 15 cidades potiguares e também nos estados da Paraíba, Paraná e São Paulo. Destes, 154 foram contra pessoas já encarceradas. Ao todo, 161 pessoas já foram denunciadas pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte por suspeitas de crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e organização criminosa – todas elas, segundo as investigações, associadas com duas facções que estariam ditando regras e comandando diversos crimes de dentro dos presídios do estado.
As duas facções, de acordo com as denúncias, surgiram a partir de uma organização criminosa que nasceu em São Paulo. No dia 7 de dezembro o 'Fantástico' exibiu gravações que mostram como esta facção vende drogas no Nordeste.

As denúncias feitas até agora apontam a existência de organizações criminosas dentro do sistema penitenciário estadual desde 2003. Na ocasião, "diversas fontes" relataram ao MP a existência de uma facção dando as ordens na Penitenciária João Chaves, na Zona Norte de Natal. Desativada em 2006, a unidade ficou conhecida como "Caldeirão do Diabo".
Operação Alcatraz cumpre 330 mandados de prisão, busca e apreensão no RN e em outros três estados (Foto: Matheus Magalhães/Inter TV Cabugi)Operação Alcatraz cumpriu 223 mandados de prisão, busca e apreensão no RN e em outros três estados (Foto: Matheus Magalhães/Inter TV Cabugi)

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