18 de abril de 2013

Agricultor é detido pela Polícia Militar em Caicó após jogar carcaça de animal em frente à Conab



Cícero Vale queria protestar contra a falta de apoio do governo federal ao homem do campo durante a seca. Foto: Reprodução TV Seridó
Cícero Vale queria protestar contra a falta de apoio do governo federal ao homem do campo durante a seca. Foto: Reprodução TV Seridó
Uma cena insólita, mas que demonstra o nível de desespero dos agricultores como consequência da falta de água no Rio Grande do Norte. Na manhã de ontem, o agricultor Cícero Vale foi detido pela Polícia Militar ao depositar carcaças de gado em frente ao prédio da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), em Caicó. O agricultor queria protestar contra a falta de apoio do governo federal ao homem do campo neste período de seca.
As fotos que ilustram esta matéria foram retiradas de uma reportagem e de um vídeo que se encontra na internet, que flagra a ação de Cição, bem como a reação da polícia. Pessoas que estavam próximas ficaram indignadas com a repressão policial. Segundo o policial militar Hudson Stopelli, ao jogar a carcaça na via pública o agricultor estava praticando vandalismo. Ainda assim, ele não chegou a ser preso, mas, detido e, ao ser levado para a delegacia, foi, logo em seguida, posto em liberdade.
“Enquanto ele estava fazendo um protesto em carro de som, ou com o carro parado aqui na frente, tudo bem. Mas quando ele partiu para o vandalismo, jogar carcaça de animal morto na via e na calçada de um órgão federal, então a gente teve que o conter. Ele não foi preso, foi conduzido para a delegacia. Apesar de ele ter mandado a gente prender, nós não o prendemos. Levamos para a delegacia”, explicou Stopelli. Cição foi algemado e colocado dentro do camburão da Polícia.
O agricultor Francisco das Chagas “Miguelinho” considerou “injusta” a prisão de Cição Bandido. “Nós, produtores, estamos prejudicados e muito. Porque a CONAB assume para a gente que vai chegar com o milho e tal dia o milho não chega. Cição foi preso e acho isso uma injustiça. Porque ele está falando por nós”, afirmou o agricultor.
Miguelinho acusou a CONAB de favorecer terceiros em desfavor dele. “Em São José de Seridó tem um barbudo lá que recebe milho todos os meses. E faz três meses que não recebi um saco”. Ele disse ainda que os agricultores estão se mobilizando para protestar. “Nós estamos nos mobilizando e o bicho vai pegar”, ameaçou. “Nós fizemos (manifestação) em Currais Novos, vamos fazer aqui em Caicó”, disse.
Fotos foram retiradas de uma reportagem e de um vídeo que se encontra na internet, que flagra a ação de Cição, bem como a reação da polícia. Pessoas ficaram indignadas com a repressão policial. Foto: Cedida
Fotos foram retiradas de uma reportagem e de um vídeo que se encontra na internet, que flagra a ação de Cição, bem como a reação da polícia. Pessoas ficaram indignadas com a repressão policial. Foto: Cedida
Entrevistado, Cição se pronunciou sobre o ocorrido. Ele disse que, para fazer seu protesto, se baseou em uma manifestação parecida ocorrida na Paraíba. “Não aconteceu em Caicó, mas na Paraíba já está acontecendo. De jogarem carcaça no Banco do Nordeste e Cição vai levar as carcaças para jogar em frente à CONAB, para chamar a atenção para esses políticos poderosos porque há um ano que não existe distribuição desse milho”, apontou o manifestante.
Cição Bandido defendeu o homem do campo, que sofre com a falta de água. “Eu estava a favor do homem do campo e do agricultor, lutando e vou lutar pelo agricultor”. Ele declarou que essa jogada de carcaça foi apenas um teste e que não há mais como este na região porque o povo tem medo. “O povo estava com medo, porque eu ia jogar a carcaça e o povo de Caicó é meio mole, mas Cição já está com a família criada, tem coragem, e essa coragem dele aconteceu na prisão de Cição”. Ele concluiu destacando que foi bem tratado na delegacia. “Estou muito bem, não me judiaram, só me algemaram e trouxeram aqui para a delegacia”.
CONAB
O superintendente da CONAB no RN, João Maria Lucio, foi procurado pela reportagem de O Jornal de Hoje, para falar sobre a posição da CONAB em relação ao ocorrido. No entanto, o telefone só chamou e até o fechamento desta edição não houve retorno.

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